Ações não planejadas e mudanças de facções aumentam violência na Bahia, analisa especialista

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Luiz Felipe Fernandez

Polícia

11 de maio de 2022 às 10h23

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O crescimento da violência na Bahia e em Salvador chama a atenção nos últimos meses, com uma onda de assaltos e assassinato de policiais militares. O pesquisador e especialista em segurança pública, Thiago Costa, explicou em entrevista ao Ligação Direta, da rádio Salvador FM, que a mudança na dinâmica das facções criminosas que atuam no tráfico de drogas, e as ações não planejadas nas periferias, resultam no aumento de homicídios e delitos no geral.

Na última década, a disputa por território entre as facções que se concentrava no Sudeste, em especial no Rio de Janeiro e São Paulo, se deslocou para outros polos urbanos no Nordeste.

Em estados como a Bahia, onde antes vários grupos criminosos controlavam o tráfico de drogas, passaram a ser influenciados pelas duas principais facções que estimulam o conflito violento e tentam exercer o domínio absoluto do comércio paralelo.

"O deslocamento da guerra de facções do Sudeste para o Nordeste, a partir de 2010, tornou mais violento os principais centros financeiros do Nordeste, como Salvador, Feira e Vitória da Conquista", afirmou Thiago Costa.

"Em Salvador, são duas facções nacionais em disputa pelo controle do tráfico de drogas na capital, uma do Rio de Janeiro e outra de São Paulo. Haviam várias facções que disputavam os mesmo territórios, e essas duas querem aglomerar o máximo possível de criminosos na capital. Obviamente isso gera conflitos e o tráfico não se sustenta só com drogas, mas de roubos e furtos para adquirir mais armamentos", complementa.

Pelo terceiro ano seguido, a Bahia foi o estado com mais mortes violentas em todo o Brasil, de acordo com o Mapa da Violência. Somente em 2021, foram 5.099 casos no estado.

Para Thiago, a guerra entre o tráfico e a polícia também se sustenta pelas ações mal planejadas ou executadas sem nenhum estudo prévio, e que resultam em muitas mortes e pouca efetividade.

"Operações que ocorrem sem nenhum tiro, são as mais efetivas que as ações não planejadas. É preciso buscar os fornecedores do tráfico, não somente na ponta. Pesquisas de economistas mostram que quando você age somente em quem vende na ponta, e não nos fornecedores, causa o efeito contrário com aumento no valor das drogas, o que beneficia a facção", descreve o pesquisador.

SOLUÇÃO

Thiago Costa crê ser impossível solucionar o problema do crescimento da violência pensando somente em uma perspectiva policial e repressora, é preciso um trabalho coordenado com outros setores da sociedade. A pobreza, a desigualdade e o desemprego, por exemplo, precisam ser combatidos, pois impactam diretamente no aumento da criminalidade.

Mas também existem medidas que já foram adotadas em outros estados que podem ser implementadas na Bahia e reduzir os índices recentes, como a instalação de câmeras nos fardamentos dos policiais e nas viaturas.

O especialista explica que o equipamento vai dar maior "transparência" às ações policiais e, consequentemente, apontar falhas e melhorias nas operações, o que resultaria na preservação da vida dos próprios policiais.

"A polícia tem que continuar agindo na inteligência, promovendo a instalação de câmeras, pois vai trazer transparência e segurança também para o policial. Muita gente acha que é só fiscalização do trabalho da polícia, mas também é uma forma de estudo nas operações. Vai ser visto por policiais depois, as ocorrências serão estudadas e eles vão trabalhar mais dentro da legalidade", afirmou.

No estado de São Paulo, onde foram instaladas câmeras acopladas nos uniformes dos agentes, a quantidade de homicídios reduziu em 40%. Estados como Rio de Janeiro e Santa Catarina também buscam implementar o equipamento.

Na Bahia, o secretário de Segurança Pública, Ricardo Mandarino, assegurou que o processo licitatório está em fase final e que o Governo da Bahia espera contar com a inovação ainda este ano.
 

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